quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Não me Deixes!


Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
"Ai, não me deixes, não!

"Comigo fica ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão;
"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"

E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"

Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"

(Gonçalves Dias)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Reticências...


(Aviso Prévio: Relembrar é preciso... Já diria o poeta... por isso aqui está a minha primeira poesia escrita [Sim... encontrei-a perdida entre um monte de arquivos...] e aqui está ela!)


A nossa vida deveria ser perfeita
Mas nós sempre teimamos em desobedecer...

O nosso primeiro encontro foi marcado
(E tinha tudo para ser perfeito!)
Mas nós teimosamente, não o quisemos cumprir-
Ao invés disso resolvemos nos conhecer
Antes mesmo de nos ver.


As nossas conversas tinhas tudo para serem perfeitas
(Mas por algum motivo inexplicável)
Nós não conseguimos conversar!-
E quando o conseguimos, algo sempre
Nos faz tremer ao falar.


Nós deveríamos ser os melhores amigos
(Daqueles que sabem tudo um da vida do outro)
Mas – cedendo a nossa teimosia –
Resolvemos nos apaixonar!

E então resolvemos dar ouvidos à razão
(Pelo menos uma vez sequer)
E decidimos que nosso amor era
Impossível – então você disse Adeus...


Mas... Antes de nos separamos...
Porque não podemos ter segundos encontros?
Porque não ligamos um para o outro novamente?
O que há de errado em apaixonar-se?
E... Porque seu Adeus tem três pontos no final?


(Béria Lima - escrito em 04/06/06)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Amar e ser amado

Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!

Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma ter só vida

P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano,
Beijar teus dedos em delírio insano

Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado
Como um anjo feliz... que pensamento!?

(Castro Alves)

Conto (a versão de Katrina)



Katrina havia finalmente se libertado do mundo dos livros. E andava contente consigo mesma. As suas idéias, que não haviam sido aceitas no monastério, agora eram bem vindas entre os estudiosos do mundo exterior. A previsão de Meste Zózima de que ela não seria feliz fora dos muros do mosterio não se cumprira.

Não que Katrina desse atenção as idéias e previsões de mestre Zózima. Katrina gostava de pensar por si só... Sua mãe havia lhe ensinado, desde a mais tenra infância, que só é digno de ser seguido aquele que age de acordo com suas palavras. E mestre Zózima não fazia assim. Afinal, se ele soubesse tudo que ele imaginava saber, saberia que o seu discipulo favorito (a quem, segundo se contava a meia voz, ele teria ensinado a arte da Alquimia) fugiria do monastério. Sua mãe também lhe dera a paixão pelas descobertas. Katrina adorava desvendar segredos. E o mundo exterior era um poço de segredos ainda não descobertos...

Ela passou a frenquentar a biblioteca a fim de descobrir os segredos do mundo exterior... e foi lá, na biblioteca, que Katrina encontrou num certo dia o monge que havia fugido do monastério, Aliocha. Katrina o reconheceu... mas ele não. Parecia estar sob um feitico, um encatamento.... Ele estava a algum tempo no mundo exterior, e vinha a biblioteca continuar seus estudos (segundo o mesmo tinha revelado a Katrina).

Katrina não gostava de monges... eles eram, na sua maioria, muitos cheios de si, e ela não concordava com as regras seguidas por eles. Mas aquele monge era diferente. Ele também não concordava com várias das regras do monastério (daí o motivo da sua fuga), mas permanecia como monge por amor. E do amor Katrina nada conhecia.

Aliocha definitivamente era diferente de tudo que ela já havia visto. Ele tinha amor aos estudos... tinha também uma sabedoria inata. A jovem russa se perguntava como ele poderia ser tão inteligente... era como se ele conhecesse todos os segredos e mistérios do mundo. Mas o melhor daquele russo era que ele estava disposto a compartilhar os seus segredos com Katrina.

Passaram a se encontrar com regularidade. Mas Katrina não mais estudava os segredos do mundo exterior, e sim os segredos daquele jovem ex-monge. Já não se interresava mais com os problemas da Rússia, todo seu interresse era pelo jovem russo a sua frente. Falavam sobre tudo, das teoria do fim do mundo a febre do czar, e ela cada vez mais se encantava com a sabedoria dele. Ele ainda a fazia sorrir. Ninguém, em muito tempo, a tinha feito sorrir. E katrina admirava ainda mais Aliocha por isso.

Um dia, numa de suas caminhadas pelas esquinas de Moscou, Aliocha lhe pediu um beijo. Mas, pelo czar! Ele era um monge! Katrina não podia fazer aquilo! E por isso disse não, apesar de querer dizer sim. Mas Aliocha era insistente, lhe pediu para beijar a face (que mal há nisso? - pensou a jovem) e atendeu o pedido dele. E soube, no instante sua face foi tocada pelos lábios de Aliocha, que cometera um erro. Soube que estava sob o feitico de Aliocha.

Em uma noite de chuva, lua escondida, eles passearam pelas ruas e esquinas de Moscou. Juntos. E ali, no compasso inevitável das horas, na espera nervosa pela carruagem, na água de chuva a molhar rostos, cabelo e almas, um beijo nasceu. E Katrina nada podia fazer a respeito, afinal ela estava sob o feitico de Aliocha. E ali, naquele exato momento, Katrina descobriu mais um segredo: O Amor. Descobriu também que a vida fora dos livros era muito mais interresante do que jamais o fora. E soube, no íntimo do seu ser, que a sua história com aquele monge alquimista estava apenas comecando...
(Béria Lima)


(publicado originalment no Cruz sub Rosa)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

I Don't Wanna Miss a Thing

Pois é povo..

Dizem que notícia ruim chega rápido.... é... pra mim não chegou! Acabo de receber duas notícias ruins (por falta de uma).

A primeira é que não trabalharei mais ao lado de duas amigas minhas... (a minha empresa despediu as duas). Agora meu dia de trabalho perdeu boa parte da alegria. Sim... pois apesar de reclamar que elas me irritavam, que elas falavam alto e etc... eu gosto muito delas. Vai ser dificil trabalhar sem o "manicômio Certisign" e a "Béria cover" (by Denise). Meninas ... Eu Amo Tu (calma ... não errei a concordância da frase... é que isto é um acrostico)

Estarei sempre

Unida

A vocês,

Mesmo com

Obstaculos um dia venceremos.

Tenha certeza: Somos

Um!

A segunda notícia... tão ruim ou pior que a primeira, é pessoal e não vou conta-la aqui... Mas, por causa dela deixo a letra do Aerosmith que abre o post:

"I could stay awake just to hear you breathing

Watch you smile while you are sleeping

While you're far away and dreaming

I could spend my life in this sweet surrender

I could stay lost in this moment forever

Well, every moment spent with you

Is a moment I treasure


(refrão)

I don't wanna close my eyes

I don't wanna fall asleep

'Cause I'd miss you, baby

And I don't wanna miss a thing

'Cause even when I dream of you

The sweetest dream will never do

I'd still miss you, baby

And I don't wanna miss a thing


Lying close to you

Feeling your heart beating

And I'm wondering what you're dreaming

Wondering if it's me you're seeing

And then I kiss your eyes and thank God we're
together

I just wanna stay with you

In this moment forever, forever and ever

(refrão)

I don't wanna miss one smile

I don't wanna miss one kiss

Well, I just wanna be with you

Right here with you, just like this

I just wanna hold you close

Feel your heart so close to mine

And stay here in this moment

For all the rest of time

Yeah , Yeah , Yeah , Yeah , Yeah

(refrão 2x)

Don't wanna close my eyes

Don't wanna fall asleep, yeah

I don't wanna miss a thing"

(O vídeo (legendado em português) : http://www.youtube.com/watch?v=j4R0836wn80 )


sábado, 1 de dezembro de 2007

Poesia de Béria

Verso Matinal

Era um riso e um mundo aquele
Olhar. E como um manto
Me enrubescia a pele
Tanto, tanto.

E, a cada gota, a chuva vinda
Precipitava o espaço
E me amparava ainda
O passo, o passo.

Caída a noite, o céu reclama
O pomo frutuoso:
Corpo desnudo, cama,
Gôzo, gôzo.

E, letra a letra, a palavra
Encontra-me submerso
E, em seu caminho, lavra
O verso, o verso.

Um verso lido em tom veloz
Que despe-me a matéria
E encontra a face, após,
Séria, séria.

E chama-me, num ponto, a voz...
Béria, Béria.

(Christian Bitencourt)

sábado, 24 de novembro de 2007

Conto



(Antes... explicação previa: O conto não foi escrito por mim... e sim para mim!)

Aliocha arranjara um jeito de escapar dos livros. Um passe de mágica, um feitiço antigo, não se sabe como. Mas ele arranjara um jeito de escapar. E, agora, andava pelas ruas de Moscou, tentando se encontrar.

Ele ouvira falar da libertação de Katrina. Também ela não estava mais presa às letras. Um passe de mágica, um feitiço antigo, não se sabe como. Mas Katrina já andava, solta, pelas esquinas de Moscou há pelo menos dez meses. E isto não podia ser coincidência.

Encontraram-se, um dia, numa biblioteca. Aliocha via Katrina, mas não a reconhecia. Talvez sua memória tivesse ficado presa numa orelha encardida de livro velho. Mas ele não precisava reconhecê-la. O encanto foi o bastante.

Katrina também era iniciada nos mistérios do monastério, mas era muito dona de si para se enquadrar em normas com as quais não concordava. O curioso é que Katrina dizia ser uma mulher da lei, e que as normas só devem ser alteradas por quem de direito. Ou a lógica não fazia sentido no mundo dos personagens que escapam da ficção, ou ela é quem era a autoridade de direito em questão, ou apenas discordava pelo prazer de discordar. O diabo é que Katrina ficava linda quando discordava. Na verdade, Aliocha descobrira muito cedo, Katrina ficava linda de qualquer jeito.

Aliocha, que antes ia à biblioteca para continuar seus estudos, passou a freqüentá-la na esperança de rever Katrina. Afinal de contas, de que valiam tantos livros à mostra se logo ali, em frente, estava aquela mulher? Katrina era inteligente. O jovem russo perguntava-se, vez por outra, se havia algo que ela não soubesse. É óbvio que havia. Mas ele gostava de imaginá-la como um daqueles livros em francês, que se importavam do sul de Paris. Cheia de mistérios a serem descobertos. Página a página.

Num outro dia, após as idas e vindas livrescas, Aliocha convidou Katrina para almoçarem juntos. E ela aceitou. E eles lá se foram. E, enquanto ela discorria sobre teorias do fim do mundo, o fracasso de Danton e a febre recorrente do czar, ele ria-se por dentro. De prazer. E, enquanto ele repetia as mesmas piadas velhas de monge, ela também sorria. Só que para fora mesmo. E Aliocha delineava, traço a traço, em sua retina, o sorriso de Katrina. E fixava-se em seu olhar, também.

O olhar de Katrina merecia um parágrafo à parte. Seus olhos eram negros, como num poema de Joukovsky. Corria, à boca miúda, uma lenda sobre eles. Teria sua mãe sussurrado um encanto das estepes, quando ainda estava de barriga, com o intuito de que sua filha nascesse com o olhar enfeitiçado. Não era, pois, à toa a devoção da mãe de Katrina por seus olhos. E nem sem sentido o hábito, já desde a tenra infância, de se cultivar uma franja sobre o olho esquerdo. Esquerdo, como é próprio das bruxas. Uma coisa, porém, é certa: Aliocha não precisou conhecer a lenda para ter a certeza, de imediato, sobre o feitiço no olhar de Katrina.

Em noite de chuva, lua escondida, Aliocha e Katrina passearam pelas ruas e esquinas de Moscou. Juntos. E deitaram a falar, passo a passo, sobre todos os assuntos do universo. Sobre como escaparam, sem saber, do mundo dos livros. E sobre que magia fascinante resultaria da mestiçagem entre germânicos e índios americanos. Não foram poucas as vezes em que Aliocha se perguntou porque passara tantos anos sem esta surpresa. E compreendeu, de súbito, a guerra entre Dimitri e Ivan.

Katrina não dizia sim. Sorria, ralhava (mais ralhava que sorria), mas não dizia sim. Derramou diante de Aliocha, como óbice, seus votos monásticos ainda não desfeitos. Mas que diabos, pensava o jovem, que diabos! Aliocha já deixara de ser monge há muito tempo. Mesmo quando ainda recitava as orações, num eslavo esquecido, aos pés de mestre Zózima.

Aliocha lhe pedia um beijo, mas Katrina não dizia sim. Ele beijou seu rosto. Mas Katrina não dizia sim. Ele o fez de novo, e de novo, e de novo. Ousou enfrentar o medo do feitiço e beijou-lhe o olho (e carrega a impressão deste olho em sua boca até este exato momento – é o que dizem). Mas Katrina, insistente, não dizia sim. E foi aí que Aliocha sorriu. Sorriu porque já tivera, ainda que por segundos, a pele de Katrina em seus lábios. E, como mestre Zózima, em transe místico, sempre dizia, sábio é quem espera. Concordo, pensou Aliocha, ma non troppo.

Cedo, cedo, pouco tempo fora dos livros, Aliocha percebeu que mestre Zózima não era tão sábio quanto parecia. E ali, no compasso inevitável das horas, na espera nervosa pela carruagem, na água de chuva a molhar rostos, cabelo e almas, um beijo furtivo nasceu. Construído aos poucos, entretecido de respiração e toque, cresceu em silêncio. E naquele exatíssimo instante, Aliocha descobriu que havia uma diferença entre o mundo de dentro e o de fora dos livros. O mundo exterior possuía muito mais histórias a serem contadas. E, de novo, naquele exatíssimo instante, com sua Katrina frente a ele, em terra molhada, Aliocha decidiu que não voltaria à Moscou das letras. Já passara o tempo de ser personagem. Era preciso escrever sua própria história.

(Christian Bitencourt)

Sub Rosa


Antes de tudo.....


A explicação para o nome do Blog:

Cruz Sub Rosa seria a cruz debaixo de segredos.

Mas explico os termos em separados primeiro:

Sub rosa: Designa aquilo que é secreto ou confidencial; privativo.
A expresão Sub rosa vem do Latim, literalmente "debaixo da rosa," pela antiga associação da rosa com a confidencialidade.Na Grécia, dizia-se que Eros teria dado uma rosa a Harpócrates, deus do silêncio, para fechar-lhe os lábios, a fim de que nada dissesse a respeito dos amores de Afrodite.

A Cruz: Essa é o simbolo do cristianismo.... aquela sobre a qual Jesus foi pregado e que posteriomente tornou-se o símbolo mais usado pelo cristianismo.

A cruz sob rosa seria (por associação obvia!) o silêncio da religião. Aquilo que não se fala... por medo, por hábitos araigados ou por vergonha de afetar alguma tradição. A cruz sub rosa significa ainda que o relacionamento de cada um com Deus é pessoal, intransferível e confidencial.


(PS.: A foto do post é a minha "Cruz sub rosa")
(Béria Lima)