domingo, 20 de julho de 2008

Pigmaleão

Nos tempos imemoriais, celibatário em Chipre
Ele, Pigmaleão, isolado pela sua vontade
Esculpiu pelo ardor das suas mãos a mais bela
Das mulheres deste mundo, ela Galatéia
Fruto das suas mãos e dos seus esforços
Vivificada pelo alento condoído dos deuses.
    A noite é quente, é sufocante
    E só há o barulho noturno aqui e acolá
    E eu novamente sozinho, entre tantas ilusões
    E eu só posso te tocar pelas tuas imagens
    Que dançam diante da minha parca visão.

    Lembrar de ti, dos momentos juntos
    Onde estarás, onde estarão teus pensamentos ?
    Será que recordas acaso de mim ?
    Será que posso pensar em olhar pela janela
      Do futuro ?

Mil dias e mil noites, ele Pigmaleão
Com o esforço de suas mãos, produziu e modelou
Cada curva, cada sinuosidade, cada beleza e pureza
E já cansado, e já iludido, apaixonado
Adormeceu entre suas ferramentas
E a deusa compadecida, transformou o mármore
Em carne e osso.

Ele, Pigmaleão de Chipre, apaixonado pela estátua
Agora teria uma mulher real a dedicar o seu afeto
Mas a pergunta que não se cala ao peito do poeta:
A estátua acaso amaria Pigmaleão ?
Ou não poderia dedicar suas doçuras e carícias
A outro, que não se esforçou nem se esmerou
Que desconheceria as origens de Galatéia ?
    Será que olhando para a janela do amanhã
    Posso achar que o amanhã é meu ?
    Otimista, como se nada ou ninguém
    Pudesse me arrancar deste paraíso ?
    Teus pensamentos talvez nem sequer me cogitam
    Eu olho para ti, e teus olhos te desviam para [o] outro.

    E hoje estou aqui só, sozinho, só [sempre]
    Olhando para uma imagem, que insiste em sorrir
    De um passado [futuro ?] esquecido
    De uma mão acenando ao longe
    De um beijo que não insiste em se apagar
    E o nosso destino tornou-se apenas
    Um sonho.
R. S. P.