Ele, Pigmaleão, isolado pela sua vontade
Esculpiu pelo ardor das suas mãos a mais bela
Das mulheres deste mundo, ela Galatéia
Fruto das suas mãos e dos seus esforços
Vivificada pelo alento condoído dos deuses.
- A noite é quente, é sufocante
E só há o barulho noturno aqui e acolá
E eu novamente sozinho, entre tantas ilusões
E eu só posso te tocar pelas tuas imagens
Que dançam diante da minha parca visão.
Lembrar de ti, dos momentos juntos
Onde estarás, onde estarão teus pensamentos ?
Será que recordas acaso de mim ?
Será que posso pensar em olhar pela janela
- Do futuro ?
Mil dias e mil noites, ele Pigmaleão
Com o esforço de suas mãos, produziu e modelou
Cada curva, cada sinuosidade, cada beleza e pureza
E já cansado, e já iludido, apaixonado
Adormeceu entre suas ferramentas
E a deusa compadecida, transformou o mármore
Em carne e osso.
Ele, Pigmaleão de Chipre, apaixonado pela estátua
Agora teria uma mulher real a dedicar o seu afeto
Mas a pergunta que não se cala ao peito do poeta:
A estátua acaso amaria Pigmaleão ?
Ou não poderia dedicar suas doçuras e carícias
A outro, que não se esforçou nem se esmerou
Que desconheceria as origens de Galatéia ?
- Será que olhando para a janela do amanhã
Posso achar que o amanhã é meu ?
Otimista, como se nada ou ninguém
Pudesse me arrancar deste paraíso ?
Teus pensamentos talvez nem sequer me cogitam
Eu olho para ti, e teus olhos te desviam para [o] outro.
E hoje estou aqui só, sozinho, só [sempre]
Olhando para uma imagem, que insiste em sorrir
De um passado [futuro ?] esquecido
De uma mão acenando ao longe
De um beijo que não insiste em se apagar
E o nosso destino tornou-se apenas
Um sonho.