
- Para onde você vai?
- Vou à casa da vovozinha, que está muito doente, levar-lhe a manteiga da mamãe.
- Onde fica a casa de sua avó?
- Naquela curva do caminho logo depois da ponte de pedra.
- Sei muito bem onde é. — disse o Papai Noel. — Essa velha é boazuda pra cacete.
A história, como se sabe, não termina nada bem. O Pai Natal fez companhia à menina, com o fito (muito perverso) de surpreender a velha, mas a avó da barretinho não queria voltar a vê-lo nem barrado com mostarda de Dijon (também não gostava de bacalhau de cura amarela). Muito contrariado, o Pai Natal ponderou comer a menina, mas entretanto vieram os lobos e, logo após, os caçadores. Pôs-se ali uma cena selvagem e muito desagradável, com tiros, gritos e uivos, findo a qual se contabilizaram várias baixas: dois lobos feridos com gravidade, um caçador perneta e o Pai Natal irremediavelmente morto e bastante desfigurado.
- Era muito feio e desagradável, mas beijava muito bem e talvez fosse, afinal, um bom homem – condoeu-se a avozinha, acometida, sem dúvida, pelo pontiagudo remordimento da culpa.
Contado assim ninguém acredita, mas, felizmente, o Pai Natal quis tirar um retrato com a menina do barretinho vermelho no gnomo do photomaton. A avozinha guarda religiosamente a imagem que demonstra a verdade inquestionável de todos os factos aqui narrados. Tem-na num passpatour que está em cima do psiché.
(clicar na imagem para ampliar, sff)