quarta-feira, 11 de março de 2009

Cantos indecisos

    Amo-te e não te vejo;
    Nunca te vi, amor...
Muito embora te abrace minha dor;
O fantasma ao luar do meu desejo...
    Só ele te conhece
E divaga na noite que te esconde;
    Noite sem fim, lá onde
Numa estrela se muda cada preçe.
Só ele te contempla o etéreo rosto,
Moldado em oiro e bruma do sol posto;
    Lágrima sempre acesa
No crepúsculo roxo da tardinha...
É assim que me desejo te advinha
    Em longes de tristeza.
Que o meu desejo é a sombra do meu ser
    Errando, a padecer,
    Lá onde tu existes,
Tão viva que és apenas sentimento,
    Ideal deslumbramento,
E uns grandes olhos negros sempre tristes...

Teixeira de Pascoaes
Poema "XXXIV" do livro Cantos Indecisos (1921)

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